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A (de)Formação dos Professores Para a Diversidade

A (de)Formação dos Professores Para a Diversidade

As estagiárias chegaram à escola. No olhar uma vontade de quem queria ver tudo para poderem, no final do dia, registar em notas e grelhas bem organizadas tudo o que pudesse ou não estar conforme às teorias. Com toda a certeza assim lhes tinham dito, mais que o estágio era de observação. No refeitório, espaço em que cruzamos o olhar pela primeira vez, senti a estranheza de quem olhava dinâmicas que lhes eram estranhas. Os barulhos, a azáfama e, claro, os alunos com deficiência que iam e vinham ao ritmo dos turnos de cada uma das turmas.

Como é usual as colegas vieram apresentá-las. De forma casual ou talvez nem tanto, após uma breve troca de palavras, pergunto em que ano andavam e se já tinham tido alguma disciplina onde tivessem abordado aspectos do trabalho com alunos com necessidades específicas. Pela estranheza dos olhares que trocaram percepcionei a estranheza da minha pergunta. Como se fosse assente que o seu curso não era para coisas destas. Isso seria coisa para os professores de educação especial. Mas talvez eu efabulasse demais quando só tinha uma troca de olhares.

Responderam-me que estavam no terceiro ano e que não tinham tido nenhuma disciplina que versasse sobre essas coisas. Acrescentaram que já tinham ouvido umas colegas falar numa disciplina dessas mas que isso seria somente no mestrado. Chato como sou, achei que devia ser alguma confusão e reforcei a pergunta dizendo alguns nomes que a disciplina poderia ter. Acrescentei nomes de alguns professores que, por princípio e do que conhecia, na sua escola de formação de professores, poderiam ter dinamizado tal disciplina. Mas de volta recebi um não categórico. Nunca tinham falado de tais assuntos e desconheciam por completo tais nomes.

Interroguei-me, mais uma vez, como tem sido possível haver formação de professores que durante três anos podem ter currículos tão pouco funcionais, tão distantes da realidade das escolas. Currículos com cada vez mais saber mas cada vez menos operantes na resposta à diversidade, à realidade das escolas.

Veio-me à ideia as palavras que, no tempo de uma boleia após uma formação, trocamos, eu e um responsável pelos cursos de especialização de uma importante escola de formação de professores deste país. Conversamos sobre a necessidade de reformular os currículos dos cursos de especialização. Da lógica de mercado que imperava e que levava a cortes cada vez maiores nos tempos de duração dos cursos, nas exigências relativamente à qualidade dos trabalhos apresentados pelos alunos, etc.

Em determinado momento defendo a necessidade não só de reformularmos os currículos dos cursos de especialização mas, sobretudo, de reformularmos os currículos dos cursos de formação inicial. Reformulação que enfatizasse toda esta área de modo transversal a todas as disciplinas.  A formação para a Inclusão é importante na profissionalidade de todos os professores.

O meu interlocutor, avisado por anos de experiência seguiu-me nesta ideia. Porém acrescentou a grande tensão que poderia criar entre os poderes dos vários departamentos. Como muito bem me explicou todos os departamentos e cada um dos seus docentes per si, na hora de desenhar o currículo de um curso afirmava sempre e de forma argumentativa idêntica a importância da área de saber que ministrava. Desta realidade decorria todos e cada um quererem, na hora de desenharem currículos, conseguir mais horas de formação para as suas disciplinas. Assim dito percebemos o que já adivinhávamos. Os currículos são pouco funcionais. Não importa a aprendizagem dos formandos, a realidade que terão que enfrentar, um dia, nos locais de trabalho, nas escolas. Outros interesses prevalecem.

No decorrer desta escrita relembro o que me disse, um destes dias, outra responsável de outra escola de formação de professores por esta área de formação. Como há cada vez menos alunos muitos professores que nunca tinham estado nestas áreas passam a estar. Enquanto houver gente da casa para preencher horário, mesmo que nunca tenha estado ligado à área das necessidades educativas especiais… desabafava. No silêncio perceberam-se todas as palavras e, sobretudo, todas as implicações.

Os outputs relativamente à formação estão mal. Como muitas vezes se constata muito por culpa dos inputs. No entanto interrogo-me sobre os processos (interesses, sobrevivências, necessidades, regras de mercado – oferta e procura) que medeiam esses outputs e inputs.

É urgente a necessidade de reflectirmos sobre novas abordagens para a formação de professores. Já agora não só de professores...

 

2016-11-28

Joaquim Colôa